26 de mai. de 2010

Entrevista com motoqueira dos anos 70

Maria Cláudia Zanin Sant'Anna, 56, foi motoqueira nos anos 70 e tinha uma moto Honda CG 125.
Veja na sequência a entrevista que ela nos concedeu:

1. Por que você andava de moto (ao invés de carro)?
R.: Foi uma opção inesperada e inovadora (para a época) que resolvia, a princípio, meu problema de transporte (tempo e trânsito), mas depois curti muito...

2. Por quanto tempo você foi motoqueira? Pretende voltar a ser?
R.: Por 4 anos, de 76 a 79 (dos meus 22 aos 25 anos). Acho que não.

3. Você tinha uma forma peculiar de se vestir por causa da moto? Se sim, qual?
R.: Andar de moto já obriga a usarmos certos ‘apetrechos’, mas naquela época a lei era mais branda com a obrigatoriedade do uso do capacete (eu nunca comprei um...), então eu usava óculos especial para moto, uma bota de salto baixo para facilitar a mudança da marcha e quando estava frio uma jaqueta de couro que meu padrasto me deu (ele era da polícia rodoviária e eles usavam motos naquela época ) e luvas. Adeus vaidade... Os cabelos sempre cheirando gasolina e a pele sempre necessitando de limpeza...

4. Você ia a algum evento de moto clube? Como obtinha informações sobre eles?
R.: Não sabia nada do universo das motos quando comprei a minha, mas naturalmente fui me interessando por tudo que dizia a respeito, comprava regularmente e revista ‘Duas Rodas’ e ficava por dentro das novidades e também de moto clube. Naquela época não tinha as facilidades da internet.

5. Que estilo de música você gostava naquela época? Seu gosto mudou desde então?
R.: Eu gostava dos sucessos da época. Nacionais, Chico, Elis, Betânia, Gal, e internacionais, Bee Gees, Queen, Village People, Beatles, Creedance por aí. Em relação à música popular continuo gostando deles mesmo. Hoje em dia também gosto de New Age.

6. O que a moto significava para você?
R.: No princípio era um desafio e um meio de locomoção rápido e barato, mas depois passou a ser também o prazer de sentir-me livre, aumentava minha auto-estima, a moto era minha amiga e confidente.

7. O que a sua família pensava em relação a você andar de moto naquela época?
R.: A moto foi minha primeira grande aquisição e também banquei minha carteira de habilitação de moto; minha família que morava no interior só foi saber disso depois. Só meu pai que manifestou descontentamento e disse que eu deveria trocar por um carro, mas eu disse que não e ficou tudo bem.

8. Você sofreu algum preconceito por ser mulher e andar de moto naquela época?
R.: Eu acho que fui uma das primeiras mulheres a adquirir uma moto Honda CG 125. A Honda tinha acabado de lançar esta moto no Brasil e era fabricada em Manaus. Só tinham duas cores de tanque: laranja e azul. Era tudo muito novo, muitas pessoas me viam com estranheza, até paravam para olhar e mexiam comigo nas ruas... Outras me achavam corajosa.

9. As suas lembranças em relação à moto são positivas ou negativas?
R.: Mesmo com alguns arranhões, são 100% positivas. Às vezes ainda sonho que estou andando na minha moto.

10. Conte-nos um caso curioso que aconteceu com você em relação à moto!
R.: Eu era, na época, programadora Cobol de computador e em época de implantação de sistema, virava a noite trabalhando. Teve uma vez que saí do trabalho às 5h da manhã e estava indo com minha moto para casa. Lembro que fechou o farol num cruzamento da Av. Paulista e aí eu dormi. Acordei com um ‘motoqueiro-anjo’ (mas real) falando comigo. Ele disse que saltou rápido da moto dele e me segurou antes que minha moto caísse totalmente sobre mim. Foi um lance de segundos e me contou que eu fui escorregando em câmera lenta... Ele ficou mais assustado do que eu, coitado.

Postado por: Nicolle Bizelli

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